Titulo: Grande
Hotel
Realizadora Lotte Stoops
Origem: Moçambique
Ano: 2011
Duração: 70’
por: Nelson Moiane
Grande Hotel é um
filme documentário de Lotte Stoops,
realizado em 2011 com 70 minutos de duração. Neste filme, Stoops conta, através
de depoimentos, imagens e arquivos, a história do Grande Hotel localizado na
cidade da Beira, que foi um dos maiores e mais reconhecidos hotéis da África e
que hoje se encontra degradado e albergando mais de 2500 pessoas entregues a
sua sorte.
Fazendo um contraste entre o passado e o
presente, entre o luxo e a miséria, este filme foca uma série de questões
sociais, económicas, político-sociais e culturais como a falta de habitação, a
pobreza, a exclusão social, a delinquência entre outras.
O documentário começa mostrando um panorama
servindo de fundo para um texto que conta um pouco a história do hotel. De seguida, mostra um plano mais fechado, onde
está uma família constituída por três elementos, um homem, uma mulher e uma
criança. Estes encontram-se ao relento, onde o homem está deitado no chão, a
criança a brincar e a mulher a fazer trabalhos domésticos. O cenário é
verdadeiramente degradado, um ambiente impróprio para se desenvolver as
actividades que este grupo está ali a desenvolver, um lugar abandonado, sujo e
em ruínas.
Uma voz no fundo, entra em seguida e vai fazendo
um relato, fala do Grande Hotel no passado, faz referência aos grandes momentos
marcantes ali passados, neste mesmo instante é nos mostrado, através de um
ângulo de 360º, uma imagem do Grande Hotel hoje, no seu real estado, degradado,
abandonado, em ruínas e que apesar de tudo ainda alberga milhares de pessoas.
As vozes de fundo, pertencentes a homens e
mulheres que viveram no grande hotel, revelam-nos de uma forma melancólica e
profunda as suas recordações. Estes relatos são acompanhados de uma alternância
de imagens em movimento e fotografias que mostram os grandes momentos do
majestoso empreendimento no passado e fazendo um contraste com aquilo que é o
hotel hoje.
A câmara tende a captar uma imagem panorâmica,
optando por ângulos que possam dar uma visão geral das instalações do hotel,
assim como mostra também alguns residentes através de um close-up, dando depoimentos em frente a câmara ou as vezes seguidos
por esta enquanto apresentam o edifício.
Há uma alternância na escolha das imagens, sendo
um documentário que retrata a história de um edifício que foi construído a
algum tempo atrás com fins não muito diferentes dos que é usado hoje, embora
com algum paradoxo, o editor mistura imagens de arquivo, fotos, jornais antigos
com imagens que mostram o contraste de hoje.
Embora estas imagens apareçam de forma alternada,
elas respeitam e vão de acordo com os depoimentos que vão sendo dados, tanto
pelos antigos, bem como os actuais residentes do hotel.
Nota-se um contraste muito grande no depoimento
apresentado pelos entrevistados, pois enquanto uns recordam os grandes
momentos, grandes banquetes e as alegrias vividas no passado, os actuais
hospedes apresentam um discurso de incertezas, insegurança, tristeza,
desespero, medo e descontentamento.
Na edição, para distinguir as imagens actuais das
antigas recorre-se a técnica do preto e branco para enfatizar a época recuada em
que foram captadas algumas imagens
O facto de a maior parte do filme ter sido
gravado de tarde ajudou muito para a captação das imagens no exterior do hotel.
As imagens do interior apresentam
uma luz mais fraca, por um lado, devido á falta de electricidade dentro do
hotel.
Embora tanto os depoimentos como ficha técnica
fossem em português, o filme é nos apresentado com legendas na mesma língua,
para reforçar a compreensão do conteúdo, pois a língua é um elemento muito
complexo e pode ter variações dependendo da região ou cultura, e também em
casos em que não temos uma boa qualidade sonora, que não foi o caso, pode
ajudar na absorção do conteúdo.
No final é uma música “Fado” que acompanha a
ficha técnica, antecedida de uma informação sobre o estado actual do hotel e o
projecto do governo de destruir o edifício e construir um mega centro
comercial, porém nada se fala sobre o futuro de mais de 2500 habitantes que
ocuparam ilegalmente o hotel, o que nos remete para um desfecho aberto e para
uma abordagem mais profunda sobre os vários problemas com que se deparam os
moçambicanos no seu dia-a-dia, um verdadeiro desafio para uma reflexão e um
debate.
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