Tuesday 29 May 2012

Grande Hotel, por Nelson Moiane


Titulo: Grande Hotel
Realizadora Lotte Stoops
Origem: Moçambique
Ano: 2011
Duração: 70’


por: Nelson Moiane 


Grande Hotel é um filme documentário de Lotte Stoops, realizado em 2011 com 70 minutos de duração. Neste filme, Stoops conta, através de depoimentos, imagens e arquivos, a história do Grande Hotel localizado na cidade da Beira, que foi um dos maiores e mais reconhecidos hotéis da África e que hoje se encontra degradado e albergando mais de 2500 pessoas entregues a sua sorte.
Fazendo um contraste entre o passado e o presente, entre o luxo e a miséria, este filme foca uma série de questões sociais, económicas, político-sociais e culturais como a falta de habitação, a pobreza, a exclusão social, a delinquência entre outras.

O documentário começa mostrando um panorama servindo de fundo para um texto que conta um pouco a história do hotel. De seguida, mostra um plano mais fechado, onde está uma família constituída por três elementos, um homem, uma mulher e uma criança. Estes encontram-se ao relento, onde o homem está deitado no chão, a criança a brincar e a mulher a fazer trabalhos domésticos. O cenário é verdadeiramente degradado, um ambiente impróprio para se desenvolver as actividades que este grupo está ali a desenvolver, um lugar abandonado, sujo e em ruínas.
Uma voz no fundo, entra em seguida e vai fazendo um relato, fala do Grande Hotel no passado, faz referência aos grandes momentos marcantes ali passados, neste mesmo instante é nos mostrado, através de um ângulo de 360º, uma imagem do Grande Hotel hoje, no seu real estado, degradado, abandonado, em ruínas e que apesar de tudo ainda alberga milhares de pessoas.

As vozes de fundo, pertencentes a homens e mulheres que viveram no grande hotel, revelam-nos de uma forma melancólica e profunda as suas recordações. Estes relatos são acompanhados de uma alternância de imagens em movimento e fotografias que mostram os grandes momentos do majestoso empreendimento no passado e fazendo um contraste com aquilo que é o hotel hoje.
A câmara tende a captar uma imagem panorâmica, optando por ângulos que possam dar uma visão geral das instalações do hotel, assim como mostra também alguns residentes através de um close-up, dando depoimentos em frente a câmara ou as vezes seguidos por esta enquanto apresentam o edifício.

Há uma alternância na escolha das imagens, sendo um documentário que retrata a história de um edifício que foi construído a algum tempo atrás com fins não muito diferentes dos que é usado hoje, embora com algum paradoxo, o editor mistura imagens de arquivo, fotos, jornais antigos com imagens que mostram o contraste de hoje.
Embora estas imagens apareçam de forma alternada, elas respeitam e vão de acordo com os depoimentos que vão sendo dados, tanto pelos antigos, bem como os actuais residentes do hotel.
Nota-se um contraste muito grande no depoimento apresentado pelos entrevistados, pois enquanto uns recordam os grandes momentos, grandes banquetes e as alegrias vividas no passado, os actuais hospedes apresentam um discurso de incertezas, insegurança, tristeza, desespero, medo e descontentamento.
Na edição, para distinguir as imagens actuais das antigas recorre-se a técnica do preto e branco para enfatizar a época recuada em que foram captadas algumas imagens

O facto de a maior parte do filme ter sido gravado de tarde ajudou muito para a captação das imagens no exterior do hotel. As imagens do interior apresentam uma luz mais fraca, por um lado, devido á falta de electricidade dentro do hotel.

Embora tanto os depoimentos como ficha técnica fossem em português, o filme é nos apresentado com legendas na mesma língua, para reforçar a compreensão do conteúdo, pois a língua é um elemento muito complexo e pode ter variações dependendo da região ou cultura, e também em casos em que não temos uma boa qualidade sonora, que não foi o caso, pode ajudar na absorção do conteúdo.

No final é uma música “Fado” que acompanha a ficha técnica, antecedida de uma informação sobre o estado actual do hotel e o projecto do governo de destruir o edifício e construir um mega centro comercial, porém nada se fala sobre o futuro de mais de 2500 habitantes que ocuparam ilegalmente o hotel, o que nos remete para um desfecho aberto e para uma abordagem mais profunda sobre os vários problemas com que se deparam os moçambicanos no seu dia-a-dia, um verdadeiro desafio para uma reflexão e um debate.

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