Tuesday 29 May 2012

KUXA KANEMA, O Nascimento do Cinema, por Nelson Moiane

KUXA KANEMA, O Nascimento do Cinema,
de Margarida Cardoso
Documentário
Filmes do Tejo, co-produção RTP Rádiotelevisão Portuguesa– ARTE France – RTBF Televisão Belga
52 minutos, cor, 2003

por: Nelson Moiane

25 de Junho de 1975, Lourenço Marques cidade capital de uma nova nação, Moçambique.   Noite de chuva, um povo eufórico, um discurso esperançoso, este é um cenário perfeito para dar início ao filme Kuxa kanema.
Da cineasta portuguesa Margarida Cardoso, este documentário leva-nos a uma viagem histórico-política através de uma narrativa em que imagens de arquivo e depoimentos dados pelos gurus da primeira (talvez a única) escola do cinema moçambicano enfatizam o nascimento de uma nova forma de ver e fazer cinema em Moçambique.
Lembro-me de ter lido em algum lugar que não há povo sem cultura ou historia, e se nós não valorizamos isso corremos o risco de ficar sem saber quem somos, de onde viemos e para onde vamos e este é um daqueles filmes feitos não só para ser vistos mas que com eles deve-se aprender, pela sua riqueza em conteúdo etnográfico, histórico e produção cinematográfica pois, de forma simples e directa pretende mostrar o sonho de um povo que com a dinâmica da vida, virou pó.
Ao escorrer dos quase cinquenta minutos do filme, é nítida a aglutinação que a realizadora faz entre a história política do país, (desde a conquista da independência, o período das agressões pela Rodésia até a morte de Samora) e o surgimento das primeiras produções cinematográficas, nos remetendo à ideia de que o cinema surge com a independência e uma não pode ser desassociada da outra.
Até certo ponto, esta teoria é válida se olharmos para o cinema produzido exclusivamente por técnicos e profissionais nacionais, contudo, há que considerar que muito antes da independência e sob governo colonial, o país já possuía salas de cinema nas principais cidades, embora fossem para um público muito restrito. É nestas salas onde havia secções de cinema para a burguesia, existem também estudos que provam a existência de um material, concretamente, imagens documentadas na zona norte do pais e que datam do período colonial, o que também poder ser considerado cinema.
Com isto, não pretendo tirar mérito à grande produção da Margarida Cardoso, muito pelo contrário, pois ela fez um excelente trabalho embora eu pense que este tenha sido sob uma perspectiva unilateral e particular daí que, quando temos esse tipo de abordagem ficamos com uma visão tendenciosa.
O facto de ter optado pelo pessoal fundador do INAC (Instituto Nacional de Cinema), para fazer o registo do testemunho do nascimento do cinema, deixa um certo vazio ou uma parte por preencher, na medida em que, algumas questões podem surgir.
Há que questionar que tipo de filmes eram vistos nas salas de cinema antes da independência ou seja que cultura de cinema existia naquela altura, visto que nos parece no filme é que Moçambique estava desprovido de qualquer instrumento, mecanismo ou manifestação de carácter cinematográfico até à proclamação da independência.
Contudo, este filme traz um debate acerca da necessidade de se continuar a prosseguir o sonho do povo, da valorização cultural de uma sociedade com valores e princípios a preservar, o sonho de fazer do cinema uma forma de salvaguardar os nossos ideais como nação, sob risco de sermos engolidos pela dita globalização.

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