KUXA KANEMA, O Nascimento do
Cinema,
de Margarida Cardoso
Documentário
Filmes do Tejo, co-produção
RTP Rádiotelevisão Portuguesa– ARTE France – RTBF Televisão Belga
52 minutos, cor, 2003
por: Nelson Moiane
25 de Junho
de 1975, Lourenço Marques cidade capital de uma nova nação, Moçambique. Noite de chuva, um povo eufórico,
um discurso esperançoso, este é um cenário perfeito para dar início ao filme
Kuxa kanema.
Da cineasta
portuguesa Margarida Cardoso, este documentário leva-nos a uma viagem histórico-política
através de uma narrativa em que imagens de arquivo e depoimentos dados pelos gurus
da primeira (talvez a única) escola do cinema moçambicano enfatizam o nascimento
de uma nova forma de ver e fazer cinema em Moçambique.
Lembro-me de
ter lido em algum lugar que não há povo sem cultura ou historia, e se nós não valorizamos
isso corremos o risco de ficar sem saber quem somos, de onde viemos e para onde
vamos e este é um daqueles filmes feitos não só para ser vistos mas que com
eles deve-se aprender, pela sua riqueza em conteúdo etnográfico, histórico e
produção cinematográfica pois, de forma simples e directa pretende mostrar o
sonho de um povo que com a dinâmica da vida, virou pó.
Ao escorrer
dos quase cinquenta minutos do filme, é nítida a aglutinação que a realizadora
faz entre a história política do país, (desde a conquista da independência, o
período das agressões pela Rodésia até a morte de Samora) e o surgimento das
primeiras produções cinematográficas, nos remetendo à ideia de que o cinema surge
com a independência e uma não pode ser desassociada da outra.
Até certo
ponto, esta teoria é válida se olharmos para o cinema produzido exclusivamente
por técnicos e profissionais nacionais, contudo, há que considerar que muito
antes da independência e sob governo colonial, o país já possuía salas de
cinema nas principais cidades, embora fossem para um público muito restrito. É
nestas salas onde havia secções de cinema para a burguesia, existem também
estudos que provam a existência de um material, concretamente, imagens
documentadas na zona norte do pais e que datam do período colonial, o que
também poder ser considerado cinema.
Com isto, não
pretendo tirar mérito à grande produção da Margarida Cardoso, muito pelo
contrário, pois ela fez um excelente trabalho embora eu pense que este tenha
sido sob uma perspectiva unilateral e particular daí que, quando temos esse
tipo de abordagem ficamos com uma visão tendenciosa.
O facto de
ter optado pelo pessoal fundador do INAC (Instituto Nacional de Cinema), para fazer
o registo do testemunho do nascimento do cinema, deixa um certo vazio ou uma
parte por preencher, na medida em que, algumas questões podem surgir.
Há que
questionar que tipo de filmes eram vistos nas salas de cinema antes da
independência ou seja que cultura de cinema existia naquela altura, visto que nos
parece no filme é que Moçambique estava desprovido de qualquer instrumento,
mecanismo ou manifestação de carácter cinematográfico até à proclamação da
independência.
Contudo, este
filme traz um debate acerca da necessidade de se continuar a prosseguir o sonho
do povo, da valorização cultural de uma sociedade com valores e princípios a
preservar, o sonho de fazer do cinema uma forma de salvaguardar os nossos
ideais como nação, sob risco de sermos engolidos pela dita globalização.
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